Galeria V Congresso da Cidade

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Wikicidades: como os cidadãos podem fazer mais por suas cidades

Quando os governos não constróem ou não mantêm em boas condições as infra-estruturas, os cidadãos geralmente se queixam, mas não podem fazer muita coisa.

Eles pressionam os funcionários públicos e protestam contra os projetos que não julgam adequados, mas a participação dos cidadãos na construção da cidade geralmente está muito longe de seu potencial. É reativa, não pró-ativa.

No entanto, este modelo de participação do cidadão está repensado pelos cidadãos ao redor do mundo. Eles estão assumindo o controle sobre o que acontece em suas cidades. Eles estão ajudando a construí-las, e não mais apenas exigindo seus direitos. Grupos locais em todo o mundo estão tomando a iniciativa e estão construindo a infra-estrutura que os governos se recusam ou demoram a fazer.


Um exemplo deste tipo de ação urbana pode ser visto em de Toronto Repair Squad. Este grupo é especializado em pintura de faixas de bicicletas e caixas de bicicleta.


Embora suas ações sejam ilegais (e às vezes até mesmo revertidas pelo governo da cidade), eles respondem a uma necessidade para este tipo de infra-estrutura que não está sendo cumprida.


Eles até mesmo lançaram um manual com instruções sobre como pintar ciclovias - o que inspirou grupos de todo o mundo para fazer o mesmo.


No México, um dos movimentos é chamado de "Wikiciudad" (Wikicity), e tem a idéia central de que qualquer pessoa pode editar e modificar as cidades. Na cidade de Guadalajara, um grupo de cidadãos pintou as ciclovias que a prefeitura tinha previsto, mas não fez.






Também na Cidade do México, outro grupo tem se concentrado na infra-estrutura para pedestres. Eles pintaram calçadas e passagens para pedestres em cruzamentos perigosos e que não existiam anteriormente. Suas ações não só foram reconhecidas pelos governos locais, como às vezes até mesmo melhoradas.


Em Los Angeles, vários grupos têm tentado lidar com a falta de assentos nas ruas. Eles desenharam o SignBench eo SignChair que podem ser anexados ao mobiliário urbano existente para fornecer um lugar para sentar. Outro grupo elaborou um conjunto de bancos de madeira e canteiros para paradas de ônibus que não tinham qualquer tipo de mobiliário urbano.


As melhorias que estão construindo cidadãos nem sempre são prioridades para o governo local, mas, mesmo em número pequeno e localizados, eles fazem uma diferença na maneira como as pessoas se sentem sobre a sua interação com o espaço público da cidade. Estes grupos não são destinados a substituir a ação do governo. Eles estão apenas tentando pressionar as autoridades para atuar e dirigir essa ação no sentido de melhor convivência.


No entanto, o que é mais importante sobre estas ações é que eles abrem uma discussão que não existia anteriormente sobre a quem pertence a cidade e quem pode melhorá-la. Este ações capacitam os cidadãos a pensar em seu ambiente e agir sobre ele, o que é, em última análise, mais significativo do que a mera criação de infra-estrutura.


Veja mais aqui. E aqui. E aqui também.Assista ao vídeo: La #wikibanqueta para la #wikiciudad




E PortoAlegre, como vai?





A capital gaúcha vai acabar seguindo este caminho e embora ainda ande a passos lentos, teria todas as condições para seguir exemplos como os acima citados. Mais do que seguir, poderia largar na frente se sustentasse com mais capital social seus insights criativos e democráticos. Porto Alegre tem uma longa história em termos de participação cidadã, foi pioneira em muitas iniciativas de democracia, e por conta da trajetória de uma população engajada tem tido o poder público municipal muito disposto a respeitar a vocação democrática da cidade.


Não por acaso, a implementação dos Conselhos Populares, do Orçamento Participativo, dos Congressos da Cidade, do Fórum Social Mundial, da Governança Solidária Local, da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento de Cidades, - só para citar exemplos mais recentes de experiências democráticas inclusivas e inovadoras- contou com a forte presença, apoio e recursos oriundos do Executivo.


Em tese, isto parece ser bom, mas na prática tenho percebido que os avanços do ponto de vista da garantia dos direitos dos cidadãos tornaram-se um fim em si mesmos, quase que liberando a população de suas responsabilidades e de seus compromissos para com o coletivo. Assim, embora existam associações de moradores e de causas de todos os tipos, o efetivo engajamento da população para ações concretas, autônomas e independentes do poder público, ainda é muito baixo.





Nossas elites não estão convencidas de que tenham um papel social a executar e as populações mais fragilizadas ainda se vêem como carentes e focadas em interesses imediatos. A classe média, como sempre, vai à missa, doa roupas velhas ou usa o botão curtir do Facebook para redimir suas culpas e lavar suas mãos.


Da mesma forma, a classe empresarial da cidade, embora com muito discurso de responsabilidade social, ainda não está muito convicta de que os tempos mudaram e ainda resiste a ter atitudes cívicas. Poucas empresas locais se comprometem com a cidade. E temos sempre uns esperando pelos outros.


Não bastasse isto, historicamente, por aqui as universidades não costumam dar retorno do conhecimento ali armazenado. E os meios de comunicação, de um modo em geral, se conformam com a tese de que seu papel social é simplesmente divulgar fatos. Com toda a sua auto-imagem de "cidade de esquerda" (ui, que coisa mais antiga), no Paralelo 30 ainda vigora a lógica do lucro a qualquer preço sustentada por mentalidades corporativistas - e aqui a expressão corporação é sim para servir como chapéu para qualquer preocupado apenas com seu próprio umbigo!


O futuro que emerge



Ou seja, temos muito a fazer ainda que consigamos romper os velhos paradigmas. E quando digo que acordaremos mais cedo ou mais tarde é porque não temos como ficar de fora se quisermos sobreviver. Felizmente, já existem movimentos nesta terrinha que buscam superar um de nossos grandes entraves (esta síndrome Chimangos versus Maragatos) e começam a ver mais longe.


O potencial da inteligência e realização coletiva local é grande demais para ser ignorado ou impedido de emergir. É preciso ter olhos atentos para enxergar alguns passos importantes daqueles que já descobriram pontos de consenso e o imensurável valor da cooperação e compartilhamento.


Neste sentido, vejo com imensa alegria a participação da Unisinos, da Ulbra, da Pucrs e da Ufrgs na consolidação dos debates em tornos dos eixos temáticos do V Congresso da Cidade. Este pode ser um bom início para uma fase de reflorescimento da participação democrática em Porto Alegre, quem sabe mais madura, moderna e efetiva. Resta ainda ver mais avanços com os meios de comunicação convencionais, que ainda não conseguem registrar o que está emergindo em nossa cidade, muito menos em outras cidades no mundo.


Outra boa notícia, nascida na Unisinos, foi a construção do www.portoalegre.cc, a nossa wikicidade., uma plataforma digital para estimular ações territoriais. De forma simples, a plataforma sinaliza que a cidade quer saber e permite que outros saibam:
Quem se importa com a cidade?
O que queremos para o nosso amanhã?
O que eu posso fazer?
O que eu posso fazer agora?
O que nós podemos fazer juntos?

portoalegre.cc
As diversas fases do projeto visam estimular a discussão dos rumos da cidade e os meios de viabilizar as soluções de modo conectado com o andamento das reuniões do V Congresso da Cidade, com o objetivo de despertar e conectar (pessoas e causas); gerar ambiente para colaboração (oferecer conteúdo gerado pelos usuários que irão migrar para a plataforma suas soluções com imagens, documentos e vídeos para o espaço digital de modo que se sintam motivados a atuar no território onde vivem); criar ferramenta de mensuração (consolidar sentimentos via nuvens de tags, que são a reunião das principais “etiquetas” dos conteúdos gerados, registrando em imagem o inconsciente coletivo que foi expresso naquele ambiente digital), ofertar portabilidade, ampliando o acesso às informações com recursos da tecnologia móvel – celular, tablets, etc.), bem como projetar o que almejamos para Porto Alegre até 2022 quando a cidade terá 250 anos (longo prazo), até 2014 (médio prazo) e até 2012 - curto prazo.Enfim, as cartas estão lançadas! Agora vamos ver quem participar!






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