Galeria V Congresso da Cidade

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Comer, respirar e dormir Hospitalidade
 Inácio Knapp*

Porto Alegre deve aproveitar os grandes eventos programados por aqui para ser a número um em bem receber do Brasil. Segundo dados recentes do Porto Alegre Convention & Visitors Bureau, só nos primeiros nove meses deste ano foram captados 18 eventos para a capital e região metropolitana, o que representa 26 mil novos consumidores na rede hoteleira, em bares, restaurantes, comércio e serviços até 2015. Segundo cálculos do POACVB, essas pessoas deverão deixar na cidade R$ 9 milhões. 

Em cerca de cinco anos, o número de chegadas de turistas internacionais a países emergentes deve superar o de países ricos. A projeção faz parte de estudo divulgado  pela Organização Mundial do Turismo (OMT), com previsões de panorama para o setor até 2030.

Com números assim, acredito que o prefeito deveria afixar em todas as secretarias esse compromisso com a Hospitalidade, assim mesmo, com maíuscula. Hospitalidade significa humanidade, civilização. E aumentar ou criar cursos contínuos para motoristas de táxi, de ônibus e até mesmo para cobradores. Dia desses, peguei um ônibus na Avenida Carlos Gomes que tinha uma passageira americana que não falava nada de português tentando se comunicar com o cobrador que não falava nada de inglês. Ela sacudia uma nota de cem reais e o cobrador não tinha troco. Ela estava visivelmente angustiada, quando expliquei que a sua nota era grande, não tinha troco e que era recomendável não ficar mostrando assim a nota. Ela agradeceu, aliviada. Temos que ter algum tipo de publicação em inglês, com perguntas e respostas frequentes e um pequeno mapa da cidade. Tenho certeza que alguma empresa ajudaria na produção deste material, de uso desse pessoal e também dos policiais e outras pessoas que lidam com os turistas. Seria um material único, de uso também dos hotéis, agências, sindicatos e outros setores. Uma articulação para unir esforços e evitar desperdícios.   

No último táxi que usei, há alguns dias, perguntei ao motorista sobre a Copa e seus preparativos, se os seus colegas estavam tendo aulas de inglês. Ele comentou que o sindicato oferecia cursos e que uns 200 colegas estavam aprendendo. "Eles irão trabalhar apenas em pontos especiais, que recebem grandes volumes de turistas", disse o taxista. Penso que esses cursos deveriam formar parcerias entre o poder público, empresas e sindicatos, para oportunizar centenas de vagas, com melhores resultados. Nesses cursos, aberto a todos interessados, enfatizar esse compromisso da cidade com a Hospitalidade. Porto Alegre é a nossa casa. Devemos receber muito bem nossos convidados.
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Diante dos nossos olhos 
Inácio Knapp*

Todos os dias perdemos muitas oportunidades de melhorarmos nossos ambientes, nossos bairros, cidades e até mesmo nossas vidas e a dos outros. São coisas simples, básicas, que, maduras, estão diante dos nossos olhos, nosso nariz quase já quase encostando mas mesmo assim não enxergamos. Muitas vezes não queremos nos envolver. Achamos que será perda de tempo. Escolhemos ficar em nosso mundinho.

Isso acontece também em empresas, serviços públicos e tudo mais. Em inúmeros locais, os serviços estão distantes do primário. Um descaso. Não existe retorno, tudo soa falso e exige uma fabulosa inteligência emocional de quem depende desses serviços.

Acredito que todos deveriam ter uma espécie de fixação saudável em seu cotidiano. Principalmente o serviço público. Um check-list salutar no seu dia a dia. A ideia da lista é nos ajudar a lembrar. Todos os dias precisamos consultar nossa ficha de atividades, de atitudes.

A boa notícia é que pequenos movimentos surgem aqui e ali. Um, a que felizmente muita gente está aderindo, é andar menos de carro. Não é dolorido. Outro é compartilhar mais e comprar menos. Também existem aqueles atos frugais, que não tomam mais que alguns minutos do nosso tempo. Vou dar um exemplo. Dia desses, fiz um pequeno procedimento ambulatorial. No dia seguinte, o médico ligou para o meu celular e não gastou dois minutos para saber como eu estava. Confesso que fiquei um pouco melhor depois da ligação.

Claro que não sonho nem desejo o Show de Truman por aqui, com sorrisos comerciais, comportamentos postiços e reações impessoais das empresas. Como diz Philip Kotler, você não consegue inventar uma identidade. O que você diz, tem que vir do que você é.

*assessor de comunicação da Polo RS.
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Parcerias
Inácio Knapp*

As parcerias na música brasileira servem de inspiração para outras parcerias. Tom Jobim e Vinicius de Moraes fizeram uma bela parceria. Roberto e Erasmo também. Para mim, uma boa parceria é solução para quase tudo.

Parceria lembra cooperação, acompanhamento, cumplicidade. Lembra também tramoia mas aqui vamos tratar só de contribuição, participação. Parceria é, muitas vezes, o resultado de uma boa articulação entre muitos interesses em torno de um objetivo comum. É uma espécie de união em torno de temas importantes. Pode ser para uma escola, um evento, um clube, um bairro, uma cidade. Por exemplo, se uma escola pública está com dificuldades financeiras ( o poder público esgotou seus recursos) o gestor responsável não pode ficar esperando a solução cair em seu colo. Tem que mobilizar a comunidade, os pais, as empresas do entorno e pedir ajuda. O que esse gestor não pode é deixar a escola desmoronar. Já vi muito na tv e no jornal diretoras de escolas reclamando que o teto desabou, que o banheiro não tem vaso e fico me perguntando como chegou naquele ponto de abandono. A conclusão: é abandono mesmo. Parece que ninguém ali se importa. Felizmente, diminuiu muito esse descaso. Por isso, também acredito que nem com a melhor metodologia nem com a melhor tecnologia nada funcionará se na cadeira da direção não estiver alguém profundamente comprometido com a causa da educação.

Parceria também exige dedicação, humildade, despojamento e habilidade para escutar e entender os problemas do outro. Dia desses vi um trabalho de um supermercado que treinava seus funcionários colocando-os no lugar dos clientes idosos, limitando seus movimentos, colocando óculos com 20% de visão apenas. Os funcionários entenderam então como os idosos tinham dificuldade nas compras e tornaram-se mais compreensivos. Fiquei com a saudável impressão que esta empresa tem uma causa, além do lucro.

Aliás, muita gente não tem uma causa. Pouquíssimos uma grande causa. A educação deveria ser uma grande causa no Brasil. Não é. Temos algumas iniciativas do setor privado mas há um grande buraco na parte pública, que não prioriza a educação. Os gestores públicos deveriam defender fanaticamente a educação mas não. Tem ainda o corporativismo, que é demais, que não enxerga o público, que olha mais para o próprio umbigo.

Uma causa ou uma grande causa pode ser integrada por pequenas ações. Uma ação modesta em sua rua pode, somada a outras, fazer uma boa diferença. Plantar uma árvore, por exemplo.

No Brasil, deveria acontecer uma grande parceria entre os poderosos do bem, de todos os setores, para abraçar a educação, valorizar muito mais os professores, numa mobilização gigantesca, que unisse todos num projeto por um País com qualidade de primeiro mundo na educação. Seria um Todos Pela Educação megaturbinado, obcecado, pleno de sonhos e sonhadores. Pode dar certo.


*assessor de comunicação da Polo RS.

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Um futuro sólido como o ar
Inácio Knapp*
No livro The Techno-Human Condition, sem data para lançamento no Brasil, os americanos Braden Allenby e Daniel Sarewitz exploram o que significa ser humano em uma era de complexidade tecnológica incompreensível e mudanças radicais. Eles argumentam que, se quisermos ter alguma perspectiva de gerir essa complexidade, precisamos escapar dos grilhões de suposições atuais sobre a racionalidade, progresso e certeza, assim como assumirmos um compromisso irreversível com os valores humanos fundamentais.

Imagino a angústia dos jovens quanto ao futuro profissional que os aguarda. A diversidade de opiniões que recebem, os cenários que mudam a toda hora, as novas tecnologias. Antes, a estrela era o publicitário, agora é o chef. Antes, as mudanças levavam anos, hoje são tão rápidas que nem as percebemos. Antes, eram em nossa rua, agora acontecem em todo o planeta, instantâneas. A escritora Tatiana Salem Levy, afirma que vivemos mais hoje que no passado, mas cada vez menos vivemos a experiência com o tempo. Tudo é alucinante, ultrafast, curto, sintético, sem tempo para reflexões. A grande maioria desses jovens deve estar perdida em meio a dúvidas intermináveis, incertezas e inseguranças. O que dizer a eles? Eu penso que um caminho é falar com seus pais.

E talvez um início seja um conselho óbvio para os pais: conversem com os seus filhos. De preferência, sem tv como companhia. Eu confesso que nunca fui bom nisso de conversar. Sempre fui constrangido em demonstrar afeto e tosco ao cobrar atitudes. Acredito que a comunicação com meus filhos muito se dá ainda hoje através de livros e discos. Esses objetos físicos que correm o risco de sumirem de vez, interpretaram muitas vezes nossos sentimentos. Ajudaram a enfrentar melhor a insegurança e os desafios dessa gigantesca tarefa de ser filho e de ser pai. Talvez através das páginas e músicas tantas vezes compartilhadas, se disse muita coisa um ao outro. Uma bagagem afetiva que nos sustenta nos momentos difíceis.

Eu aposto que muita coisa melhoraria para os jovens se a família dedicasse mais tempo para conversar e conviver com seus filhos. Elaborar programas culturais, ter o hábito da leitura em casa, dar exemplos de solidariedade e de respeito à sua volta, para o meio ambiente e com a cidade. Ensinar como se cuida disso tudo, do nosso entorno. Nada disso é novo, tudo é óbvio, mas pouco praticado, mesmo por famílias com bom poder aquisitivo. Conheço algumas onde os pais nunca foram a um cinema com os seus filhos, muito menos a um teatro, livraria ou museu.

Também acredito que os pais devem assegurar que seus filhos cumpram com suas obrigações. Não deixar o filho desisitir do aprendizado de um novo idioma, incentivá-lo a ter um tempo para estudos e também para a leitura. E ter também um tempo como voluntário em alguma ação em seu bairro. Equilibrar obrigações com lazer é fundamental, como também a ideia de fazer mais com menos. Ser mais simples e menos arrogante. Nada que seja maçante. Entretanto, devo confessar que muitas vezes fui um chato. Talvez ainda seja.

A grande vantagem desse trabalho todo é que a educação nunca se perde e ninguém rouba, como dizia meu pai. E se você acha tudo isso muito caro, demorado e complicado, experimente a ignorância, como bem lembrou o genial Millôr Fernandes.

*assessor de comunicação da Polo RS.


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Eu amo, eu cuido!
Marilice Costi*
Sábado. Primeiro cuidar de si. Ao seguir para a academia, percebo o meu bairro, considerado como o Bom Fim - os bairro de Bem Viver - em uma das reuniões coordenadas pela UNESCO com vistas ao V Congresso da Cidade de Porto Alegre. Sou desses bairros há quase quarenta anos. Orgulhosa de ser, decido assumir a minha parte no meu lugar, o espaço ao qual nos vinculamos afetivamente.

Ontem, ventou e choveu, mais ventou. Há galhos de árvores pelas ruas e, à minha frente, estão sacos de lixo cheios e vazios que foram trazidos pelo vento e que seguirão para os bueiros. Lastimo não ter trazido uma sacola de casa. Junto dois deles retirando-os da boca-de-lobo e os cheios que foram colocados na calçada defronte a um condomínio da década de setenta. Meu cérebro linca com a palestra do Prefeito de Bogotá, a questão da cidadania. Sou portoalegrense e preciso fazer minha parte.


Estou sem luvas, mas decido tirar aquilo da calçada. E percebo que há matéria orgânica misturada com material reciclável. No peso! Aqui e ali, amasso as caixas de leite com os pés e coloco os volumes diminuídos nas pequenas lixeiras colocadas ali perto no ano passado. Olho para o céu e percebo uma peça despencando da fiação. Páro, como faria meu pai, e procuro alguém por perto. Uma moça! Deve ser moradora. Ela me diz que cansou de pedir. Que eles vêm, amarram com arames mas eles logo se rompem. E tudo se repete. Observo que aquilo deve ser de uma das múltiplas redes que poluem a paisagem, as NETs. Um lixo no ar? Mas reclame novamente, pedi. Isto poderá cair na nossa cabeça.


Já vi tudo? Catadores dentro dos novos containers, moradores de rua futricando em busca de latinhas...e comentários: tem gente dormindo dentro e é por isso que as ruas estão ficando vazias! O caminhão os leva! E quem vai se dar conta deles? O imaginário urbano? Respiro fundo e entro na farmácia onde conto minhas peripécias aos atendentes. Ganhei interessados no V Congresso?


Atravesso a rua e comento com um vizinho com quem nunca me comuniquei. Ele está desalentado: o caminhão recolhe o lixo seco dos vizinhos e não leva o seu!... Daí, os moradores de rua estraçalham os sacos na minha calçada e tenho que limpar! Por isso, misturo tudo e coloco dentro do container. Mas senhor Alexandre, ligue para o 156. Faça sua queixa! Não adianta, arguiu, cansei deles. A credibilidade pública! Repito e nada de convencê-lo. E ele ainda diz: Veja, o container está na frente do bueiro, não deveria! Olha ali, empurraram para cá, colocaram lá!


Mais adiante, há latas de tintas enferrujadas (as mesmas há anos!) na esquina. A falta de fiscalização foi apontada naquela reunião! Fazer cumprir a legislação! Adiantaria punir?


O meu andar vai ficando quixotesco. Um homem mexe em muitos sacos de lixo na nossa pracinha. Vou até ele e lhe pergunto se colocou aquele saco no meio do canteiro gramado. Não fui! Sentiu medo. Ali há uns quatro quilos de ossos, provavelmente retirados durante a busca na grande lixeira, um chamariz aos cães. Não levo o assunto adiante e coloco-o dentro do container. Acho bom, que ao levantar a tampa, há um sistema hidráulico que reduz o esforço para abri-lo. E começo a amar essas coisas que limpam meu bairro! E acredito que tudo foi escolha de cabeça muito bem pensada! Quem não produz lixo?


Lembrei de minha infância em Passo Fundo e de meu pai a dizer: Falta educação no povo! As escolas! Como é importante estimular o sentimento de pertença! Amo este lugar, estou aqui!


Tive vontade de conversar com todos os vizinhos, de bater de porta em porta... . Quem me acompanharia? Afinal, ser cidadão não é esperar que os outros façam tudo!


E eu iria longe com o encadeamento de estímulos urbanos à minha memória. Tão importante mexer com os neurônios! Corro para a academia. Quase fechando. Mas estou feliz. Afinal, cuidar da cidade é também cuidar de mim!



*Marilice Costi é urbanista e edita a revista O CUIDADOR - www.ocuidador.com.br



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Partes de nós
Inácio Knapp*
Muitas vezes nós recebemos mensagens de afeto ou pedidos de ajuda dos nossos familiares, amigos e até da nossa rua ou cidade. Chegam em forma de pequenas mudanças, diferentes atitudes, novos jeitos mas, na maioria das vezes, não entendemos praticamente nada. Das pessoas, esses recados podem vir através de uma refeição especial, de velas no jantar, de uma bonita música. Da cidade, através de novos ônibus, de um melhor serviço de coleta de lixo, da rua mal iluminada. Para desapontamento da prefeitura ou do familiar, que esperam algum comentário, quase sempre nada é percebido ou não merece a atenção esperada. E a intenção, que era de elogiar, dar prova de amor ou simplesmente agradecer ou comemorar algo, ou melhorar uma atividade do poder público, fica prejudicada. Surgem ruídos, birras que a gente não entende a razão, só conhecida após a uma explicação detalhada. Aí já é tarde e tudo fica comprometido.

Não notamos a nova praça, a rua asfaltada, o novo corte de cabelo, a nova camisa, a música de fundo. Não elogiamos a prefeitura, nem protestamos por algum serviço ruim e também não colaboramos com nada. Não conversamos com nossos familiares. Ficamos indiferentes.

Acredito que somos culpados por esses descasos imperdoáveis. Também o vencer ou vencer, o tempo louco, a pressa, o trânsito e mais uma infinidade de culpados poderiam ser listados como bons motivos para esse comportamento. Lembro de uma charge do Quino onde ele mostra um sujeito levando xingão do chefe, xingão no trânsito e em vários outros lugares. No final do dia, quando chega em casa, o filho com saudades vem correndo para abraçar o pai que chega e o cara, incomodado com a péssima jornada, descarrega um pontapé no garoto.

Eu tenho me policiado o tempo todo. Estou longe do pontapé mas tenho que ter mais paciência. Afinal, distribuir abraços, sorrisos e beijos não deveria ser tão difícil para ninguém. Elogiar também deveria fazer parte destas gentilezas.

Dia desses acompanhei, não tão de perto como deveria, um trabalho para a faculdade feito pela Marina, minha filha. Ela tirou centenas de fotos dos avós, dos pais, dela própria e até da Frida, nossa cachorra. Passou dias nesta função até concluir a tarefa. O resultado foi um micro livro, só de minúsculas fotos, como um patchwork, em cujo tecido imaginário fossem reproduzidos detalhes dessas imagens. Ainda na manhã desse dia, bem cedinho, estávamos no ônibus, ela indo para a faculdade e eu para o trabalho, quando ela comentou que o livro poderia chamar-se Partes de Mim. Fiquei emocionado com a sensibilidade do título, tive vontade de abraçá-la e de elogiá-la mas me contive e me arrependi.

Naquele mesmo dia olhei o relógio várias vezes. O tempo custava a passar. Não via a hora de chegar em casa e abraçar e beijar todo mundo, inclusive a Frida. Eles fazem parte de mim.

Podemos ser assim com a nossa rua, o nosso bairro. Termos um olhar mais generoso. Sermos mais atentos. Cuidar e comunicar os problemas que surgem, apontando falhas para a prefeitura.

Uma cidade é a soma de todos que nela vivem. Uma cidade faz parte de nós, da nossa história, das nossas memórias, dos nossos atos. Devemos abraçar, respeitar, proteger e entender melhor nossas cidades.



*assessor de comunicação da Polo RS – Agência de Desenvolvimento, membro da Comissão de Comunicação do V Congresso da Cidade.



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Acelerar não é bacana, imbecil
Inácio Knapp*

Ontem, no início da noite, na esquina de casa, vi um motoqueiro estendido na calçada. De saída com familiares, não quis me aproximar. Não tenho curiosidade por essas cenas mas fiquei pensando em como certos motoristas, a maioria jovens, adoram correr e arriscar a própria vida e a de outras pessoas. Segundo uma médica conhecida, são grandes doadores de órgãos. Mas a verdade é que com zero de inteligência emocional, não suportam qualquer contrariedade possível e estão prontos para acelerar. Acham a velocidade bacana. Muito mal-educados, não respeitam sinais, nem faixas de pedestres e muitas vezes dirigem embriagados.

Campanhas de trânsito, multas e sermões não adiantam muito para a mudança de atitudes desses perigosos motoristas, verdadeiros brutamontes. Para cair a ficha e os neurônios funcionarem, tem que ocorrer alguma tragédia próxima, muito próxima, com amigo ou familiar.

Também a cultura da velocidade da nossa época parece que embaça o cérebro desses motoristas. Tempo é dinheiro, bradam os impacientes e nervosos motoristas.
Eles acreditam que dar passagem para um outro carro, ser solidário no trânsito ou respeitar a faixa de pedestres ocasionará um atraso mortal em suas carreiras ou prejudicará seus egos ou ainda o conceito de verdadeiro macho. É a satisfação do poder ao volante.

Sou motorista há mais de 40 anos e faz muito tempo, mas muito tempo mesmo que não solicitam minha habilitação, em alguma barreira de trânsito. Tenho saudades dos cavaletes anunciando uma, daquelas que fiscalizam mas que também educam e orientam. Acredito que esses motoristas insanos sentem-se seguros, nesse ambiente quase sem punição e fiscalização. Tudo está muito tranquilo por aqui. Não podemos esperar um infortúnio arrasador, como perder alguém querido, para mudar nossa atitude. 





*assessor de comunicação da Polo RS – Agência de Desenvolvimento, membro da Comissão de Comunicação do V Congresso da Cidade.




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 Nada é importante
Você sabe o que é importante. Eu também sei.

Lembro de uma música do Tim Maia, em que, lá pelas tantas, no meio da canção, ele soltava um pensamento com o inesquecível vozeirão. "Nada é nada e tudo é tudo". A gente sabe o que realmente importa em nosso dia-a-dia mas parece que alguém precisa ficar cutucando nossa mente para lembrar, para selecionar eventos, atitudes, emoções. E desprezar aquilo que já não significa nada hoje, que dirá amanhã ou no tempo futuro. E que só serve para nos envelhecer, tirar nosso bom humor e estragar nosso dia. Quantas besteiras por tão pouco! Esse anjo do bom senso precisa estar atento e reforçar sempre: devemos concentrar nossa energia no que realmente vale a pena.

Outro dia revi o filme Fale com Ela, do Pedro Almódovar, e guardei o momento em que o personagem central do filme lamenta ter sido pouco abraçado e ter dado poucos abraços. E parece que isso está acontecendo com todos, inclusive comigo. Alguns dias atrás recebi um abraço afetuoso de um conhecido, quase amigo, que não via há anos. Foi um abraço espontâneo e comovente. E o que deveria ser mais corriqueiro transforma-se em momento raro em nossos dias.

Não adianta estarmos lado a lado, na mesma sala, com nossos entes queridos se estamos distantes, enredados em tramas e tolices da tv. Algumas vezes temos vergonha de manifestarmos nosso amor por nossa família, nossos filhos.

Podemos achar breguice essas conexões humanas, temos vergonha em demonstrar afeto. Eu estou com o firme propósito de estar mais presente com todos. E dar muitos abraços. Na minha família, em meus amigos e até na minha cidade. Cuidar mais de todos.

Pode ser careta, palhaçada ou como diriam alguns amigos, muita sensibilidade. Não importa. Nada é importante.

Eu sei o que é importante.


*Inácio Knapp 

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Veja artigo de Plínio Zalewski sobre o V Congresso da Cidade publicado no site da revista VOTO:


Amor por Porto Alegre: por uma nova cultura cidadã
Plínio Zalewski*

Porto Alegre curte a idéia de cuidar da cidade. Muito mais do que uma campanha publicitária, o chamamento do Prefeito José Fotunati para que os porto-alegrenses conjuguem os verbos Curtir e Cuidar no seu dia a dia pode representar um salto de qualidade na participação democrática. Fazendo a travessia do exercício do controle social para o exercício do poder, os atores sociais estarão fundando uma nova Cultura Cidadã, cuja plataforma colaborativa se materializa nas ruas e no V Congresso da Cidade.

Corta!!!
“Para as ruas”, postam nas redes sociais os revolucionários egípcios e tunisianos, assim como os ativistas espanhóis e gregos. Pois é a partir das ruas que, desde a revolução húngara de 1956, desenha-se uma nova tecnologia de mobilização e transformação social e um conteúdo verdadeiramente revolucionário para a política. Falo da aversão à violência como método de libertação dos povos – violência que é a renúncia à essência da política, que é o falar - e da liberdade como objetivo de fundação de uma nova ordem – que é o pleno exercício do poder. Faça sua lista: Hungria, 1956; Polônia, 1980; Argentina, 1982; Brasil, 1985; Filipinas, 1986; URSS, 1989; África do Sul, 1990; Geórgia, 2003; Ucrânia, 2005 e Tunísia e Egito recentemente.
Desde a redemocratização, “as ruas” para Porto Alegre – seu espaço público de participação – têm se alargado. Contudo, Orçamento Participativo, Conselhos de Políticas Públicas, Fóruns de Planejamento e uma diversificada rede de controle social e decisão sobre o orçamento público são ainda apenas uma face da Cultura Cidadã, em que a palavra sepultou a violência e vitórias foram acumuladas na garantia de direitos e melhoria das condições sociais.

Falta-nos, porém a liberdade, no seu sentido mais radical: concertar ações a partir da multiplicação de territórios de poder que, tendo no Poder Público um aliado importante, impõem-se na cena pública através de alianças sociais mais amplas, autorreguladas, capazes de planejar e executar projetos de desenvolvimento e, sobretudo, lograr um equilíbrio entre o que é legal, moral e cultural no interior das comunidades. Neste sentido, qualidade de vida passa a ser entendida como felicidade pública, na qual emprego, renda, educação e saúde tornam-se tão importantes quanto preservar o patrimônio público, respeitar as leis do trânsito, recolher o lixo, não tolerar as drogas e a violência doméstica.

Em suma, sem Participação no espaço público, Autorregulação e Cuidado com nossas leis, nossas crenças e costumes, teremos sempre que multiplicar nosso tempo, esforços e espaços de controle social, tendo em vista que o autoritarismo e a corrupção se reinventam; as estratégias de cooptação, dependência e manipulação política se renovam; o patrimonialismo, o compadrio e o descompromisso com a cidade continuarão não encontrando obstáculos.

Não é outro o objetivo do V Congresso da Cidade, que teve seu início em abril e se desenrolará até novembro, em seu encontro final. Cinquenta bairros já definiram seus objetivos e metas até 2022 e escolheram seus Comitês de Articulação e Mobilização, numa aliança entre atores dos mais diversos setores. Até agosto, serão 82 bairros trabalhando nesta perspectiva e de forma autônoma. Verdadeiros territórios de exercício do poder - de liberdade, não de necessidade - tendo sob domínio um instrumento potente de diagnóstico e gestão, denominado Bússola do Desenvolvimento Local, desenvolvido pelo Observatório da cidade de Porto Alegre.

E as alianças se multiplicam. Além da Agenda 2020, Parceiros Voluntários, Instituto de Estudos e Pesquisa em Psicoterapia (IEPP), OAB, MP, SEBRAE, SENAC, Delegados e Conselheiros do OP, Conselhos e Fóruns de Planejamento, as quatro maiores Universidades (PUC/RS, Unisinos, Ulbra e UFRGS) coordenam voluntariamente os Eixos Temáticos de Desenvolvimento Urbano-Ambiental, Humano, Econômico e da Cidadania, que apontarão as grandes diretrizes para Porto Alegre nos próximos 11 anos. O V Congresso da Cidade também permite a participação via web, através da plataforma colaborativa portoalegre.cc.

A multiplicação de territórios de poder, pelo resgate desta verdadeira microfísica da participação que são os bairros, conformando uma geopolítica na cidade; a promoção de alianças amplas e diversificadas, voltadas para a cooperação em torno do planejamento integral de longo prazo, objetivos claros e agendas operativas; o exercício da autorregulação dos indivíduos e comunidades; a problematização do conceito de cidadania, de controle social ao exercício do poder; o protagonismo das Universidades, aprofundando a conexão com a sociedade; a legitimação de todas as formas de participação, sobretudo as redes sociais.

Tudo isso somado projeta uma Porto Alegre muito mais democrática e, especialmente, mais corresponsável com seu cotidiano e seu futuro. Uma nova Cultura Cidadã, que combina a necessidade do controle social com a liberdade, que é sentir com emoção que Eu Curto, Eu Cuido de Porto Alegre. Alguma coisa como celebrarmos que alcançamos todos os direitos inscritos na Declaração dos Direitos Humanos e, ao mesmo tempo, sentirmos que pertencemos à cidade. Amor por Porto Alegre, enfim.

*Plinio Zalewski Vargas é diretor Técnico da Secretaria Municipal de Coordenação Política e Governança Local







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Como o clarinetista e bandleader Benny Goodman pode nos ajudar?
Inácio Knapp*

Não gosto de pessoas andando pelo palco que não estejam bem vestidas. Você tem que parecer bem. Se você se sente especial em relação a si mesmo, vai tocar de modo especial. Benny Goodman.
Em primeiro lugar, Benny Goodman nos ajuda com a sua música. Ele foi o maior virtuose do clarinete no jazz. Além da alta qualidade de suas performances, Goodman ficou conhecido também por afinado faro para escolher os músicos de sua orquestra ou grupos menores. Ele provou que a boa música poderia atingir o grande público. Foi a figura mais popular na história do jazz que atingiu um público de outras áreas. Ele foi os Beatles de sua época, como afirmou o produtor George Wein.

Goodman nos ensina que cada um de nós tem que se sentir especial em relação a si mesmo. Não tem como alguém que não se sinta bem tratar qualquer pessoa de maneira especial. Assim é com um músico, um professor, um político, um motorista. Assim é também com um bairro onde seus moradores não sentem prazer em moral ali, em passear por suas ruas ou até mesmo sentem medo.
Um profissional, um bairro, uma cidade, uma região ou até mesmo um país tem que se sentir especial em relação a si mesmo. É fundamental para o desenvolvimento.
Se sentir especial é cuidar da mente, do corpo, é estudar, é investir na educação. É olhar para o lado, para o bem comum. É respeitar regras e pessoas. É não se acomodar. É lutar.
Só depois dessa conquista dá para colocar Sweet Lorraine no som e confirmar porque Benny Goodman era um músico especial.

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Aromas de sábado: folhas de manjericão e milho cozido
Inácio Knapp *

Fernando Picarelli Martins

A cidade que arquitetos idealistas imaginavam tempos atrás certamente tinha cheiro de temperos, flores e frutas. De manjericão fresco, de milho cozido na hora, de suco de abacaxi bem doce. A feirinha de verduras, legumes e muita coisa mais de todos os sábados da Redenção de Porto Alegre nos conduz a vários lugares, do passado, do real e do imaginário. Passeando entre as banquinhas, de mãos dadas com minha filha e minha mulher, viajo. Reencontro meus pais e avós ensinando como comprar o melhor aipim, a laranja mais suculenta, o feijão da safra. E me vejo carregando uma sacola dessas de pano, abarrotada de aromas e temperos. 
Mas ao mesmo tempo, caminhar por ali nos abastece com uma reserva de equilibrio e paciência e pensamentos do tipo a vida vale a pena. São munições para enfrentar o dia-a-dia, para suportar pessoas postiças, para frequentar locais mais assépticos, impessoais e frios mas que hoje são inevitáveis.
Visitar essa feira que acontece todos sábados pela manhã na Redenção é conviver um pouco com o nativo de Porto Alegre. É o cotidiano que não se pode perder. Uma espécie de purificação com folhas de manjericão, milho cozido e suco de abacaxi.

*assessor de comunicação da Polo RS – Agência de Desenvolvimento, membro da Comissão de Comunicação do V Congresso da Cidade.
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Cidade dos pomares
Inácio Knapp*

No bairro em que morei nos Estados Unidos, na cidade de Los Angeles, algumas calçadas, pode-se dizer, eram comestíveis, pois haviam canteiros plantados onde brotavam alfaces, repolhos, couves e outras folhas para saladas. Foi há 30 anos mas sempre lembro daquelas calçadas comestíveis quando meu sogro fala da sua dificuldade em entender porque não se plantam árvores frutíferas na cidade. Ele tem razão. Nos fundos da sua casa em Porto Alegre, em um minúsculo espaço, tem uma bonita árvore que anualmente dá imensas romãs, distribuídas entre os amigos. A escritora Nina Horta, cozinheira de mão cheia, tem a mesma opinião sobre o verde em nossas ruas:

É óbvio que estamos sedentos por um pedaço de natureza na cidade. Mas, queremos comer esta coisa. Por que não inventamos a cidade dos pomares?

As jacas cairiam em nossas cabeças? As mangas sobre os carros? Ora, as frutas grandes que se plantem nas praças. O que estamos fazendo que não plantamos só árvores frutíferas nas calçadas, nas praças, em todo lugar? E que deixem as coisas que crescem sozinhas crescerem sossegadas!

Urbanistas, acudam, venham curar nossas angústias. Não venham dizer que as árvores plantadas nas ruas são próprias para as ruas. Não são. Deitam raízes, é proibido cortá-las, caem sobre as casas e os carros. Uma amoreira, uma goiabeira, teriam um comportamento mais adequado.

Então, saudosos do mato, nostálgicos, transportaremos a roça para a cidade, na medida do possível. Paisagistas, atentem para a beleza da alcachofra e do repolho, estamos com vontade de comer a paisagem. Aliás, alguém já disse que uma comida adequada é a paisagem dentro de um prato.

 *assessor de comunicação da Polo RS – Agência de Desenvolvimento, membro da Comissão de Comunicação do V Congresso da Cidade.


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Parada de ônibus ou lixão?
Inácio Knapp*

Acredito que poucos leitores andem de ônibus e talvez por isso seja interessante conhecer a opinião de um passageiro. Eu ando todos os dias da semana de ônibus. Minhas viagens com o transporte público de Porto Alegre, de um a dez, merecem nota sete. Do conforto, do comportamento e educação dos motoristas e cobradores não posso reclamar. No meu roteiro entre ida para o trabalho e volta para casa, esse pessoal demonstra paciência e cordialidade. O problema maior acontece nas calçadas das duas paradas que utilizo, e provavelmente de muitas outras da nossa cidade. Sobre a que fica diante de casa, a reclamação não é tão grave: mal-educados insistem em virar o lixo das lixeiras. O problema maior é com a parada que fica perto do prédio do meu trabalho, quase na Avenida Carlos Gomes. Hoje, por exemplo, contei dez garrafas de cerveja espalhadas por toda a parada, além de muito lixo, restos de comida e centenas de tocos de cigarro, além da depredação da lixeira, que há meses não existe mais. Claro que a administração pública tem boa responsabilidade nessa situação: a vigilância deveria ser maior e mais frequente nessas paradas mas acho que a péssima educação de algumas pessoas é a grande responsável. Essas poucas pessoas é que emporcalham um lugar de espera, que precisamos estar, aguardando o ônibus. Não consigo aceitar que passageiros que dependem de um abrigo para seu conforto, desprezem as mínimas regras de civilidade urbana. Vejo todos os dias o trabalho incansável de centenas de varredores de rua e, mesmo assim, a cidade está quase sempre suja.

Uma ideia: talvez empresas e instituições pudessem ajudar a prefeitura, adotando essas paradas que recebem um grande número de passageiros. Não seria uma troca de interesses, por uma placa ou outro tipo de reconhecimento mas algo genuíno, de autêntica vontade de cuidar da cidade. No exterior, existem exemplos de associações que promovem a manutenção até mesmo de grandes avenidas.

Com o tamanho e o crescimento das cidades brasileiras e de grandes eventos chegando por aí, precisamos demonstrar mais afeto por Porto Alegre. E também educação, respeito e solidariedade com nossos vizinhos e colegas. Com todos que aqui moram. 
 *assessor de comunicação da Polo RS – Agência de Desenvolvimento, membro da Comissão de Comunicação do V Congresso da Cidade.
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Um bairro pichado, uma cidade feia

 Angela Bortolotto*

O meu bairro em Porto Alegre não é aquele em que nasci, nem aquele em que vivo hoje, mas é aquele em que passei 30 anos da minha vida. Foram nessas 3 décadas que brinquei nas pracinhas de esquina do Partenon, que coloquei barquinhos para correr na água da chuva nas calçadas, peguei a Kombi para ir pro colégio, fiz as festinhas de aniversário para os vizinhos. O Partenon, com seus mais de 50 mil habitantes, é maior que muitos municípios do nosso Estado, um território ocupado por pessoas de diferentes trajetórias e oportunidades, convivendo num mesmo espaço.

Como todo território altamente povoado, o bairro convive com imensas desigualdades, grandes problemas de convivência no trânsito e violência urbana. Há coisas boas e imensos problemas. Lá estão o Presídio Central, os problemas do Morro da Cruz, as ruas descalças dos morros que se estendem até a divisa com o Santo Antônio e Agronomia sem grandes parques ou espaços de lazer. Mas lá também há uma grande universidade, um pólo tecnológico, importantes redes de supermercados, pequenos comerciantes que geram emprego e dezenas de entidades que prestam assistência à comunidade, que podem ser representadas pelo Lar Santo Antônio dos Excepcionais e a Creche Menino Jesus de Praga.

Nesse ambiente tão diverso, certamente há muitas correções a serem feitas, mas há muito a ser mudado na relação dos próprios moradores com o bairro. A mim muito revolta o problema das pichações. Nos quase 20 quilômetros da Bento Gonçalves, avenida que corta o Partenon dos pés à cabeça, poucos são os prédios alheios ao vandalismo. Essa ação de repúdio à cidade não pode ser considerada de responsabilidade de agentes externos. São pessoas do próprio bairro que atacam casas, prédios comerciais, escolas e pontos de ônibus sem uma justificativa que possa ser entendida por quem no seu dia a dia busca construir uma cidade limpa e saudável.

Comparando ao tamanho do Partenon e suas necessidades, o problema das pichações parece algo pequeno. Mas é certamente um desafio. Seria muito bom ver pessoas preocupadas com esse problema reunidas no V Congresso da Cidade. Enquanto tivermos bairros pichados, não conseguiremos andar na velocidade necessária para uma cidade verdadeiramente bonita.

* Jornalista, membro da Comissão de Comunicação do V Congress da Cidade
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O que a simplicidade nos ensina

Inácio Knapp*

Há alguns dias, a sala onde trabalho sofre com o ritmo incessante de uma grande obra. Reformam paredes externas do prédio. O barulho incomoda e parece penetrar fundo em nossos cérebros. Dia desses, as marteladas ficaram bem próximas do meu computador. Podia sentir a vibração em minha mesa. A talvez um metro de distância, o pedreiro, enquanto assobiava conhecida música de Roberto Carlos, descascava a antiga parede com vigorosas marteladas. Da janela que só se enxerga por dentro, por questões de segurança, podia perceber a tranquilidade e a paz daquele pedreiro. Foi o que bastou para entender que a minha reclamação silenciosa do barulho não tinha nada a ver. E não tinha mesmo. Reclamo muito e compreendo pouco. Segui pela tarde sem nenhum problema.

Aprendo também andando de ônibus. Diariamente uso esse transporte público para trabalhar. Sou privilegiado. Existe uma parada diante de casa e outra bem próxima do trabalho. Quase sempre tem lugar vazio e quase sempre é ônibus com ar condicionado. Portanto, conforto razoável. Entendo que uma grande maioria de cidadãos não tem essa sorte. Compreendo essas dificuldades e também as lições aprendidas com alguns usuários que são deficientes. Na maioria das vezes, o afeto e a paciência dos familiares com essas pessoas especiais é comovente. É claro que muitos não aceitam ter um filho assim, o que é normal. Fico imaginando as dificuldades dessas famílias, o drama de ter uma filha paraplégica ou um filho autista e, de novo, o quanto sou privilegiado. Todos os dias essas pequenas viagens lembram que sou privilegiado e o que é realmente importante. Elas me colocam em um prumo, em uma espécie de viver com prudência e equilíbrio.

São lições diárias. Viver em uma cidade, qualquer cidade, significa também atuar, participar, ajudar a transformar para melhor essa comunidade. Ter uma lista de deveres. Como fazer isso? O V Congresso da Cidade é um caminho. Informe-se: http://www.vcongressodacidade.blogspot.com/

*assessor de comunicação da Polo RS – Agência de Desenvolvimento, membro da Comissão de Comunicação do V Congresso da Cidade.
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Essências da nossa infância