Galeria V Congresso da Cidade

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cuidadores da Cidade - Marli Medeiros, a rainha da sucata

Ela terminou apenas o Ensino Fundamental em uma cidade de fronteira
no interior do Rio Grande do Sul. Mesmo assim, carrega características
de liderança que estão sendo disseminadas em escolas de negócios em todo o mundo. Marli Medeiros, 58 anos, foi responsável por enxergar
valor no processo de reciclagem de lixo em 1993 e,a partir disso,mudar sua comunidade.
– Eu era apenas um exemplo,uma história.Hoje me ligam dizendo que sou um case, acho que estou chique – conta,entre risadas.
Marli está certa. O trabalho que começou na década de 90 em uma das áreas mais violentas e dominadas pelo tráfico em Porto Alegre, a Vila Pinto, virou objeto de pesquisas acadêmicas, documentários
e reportagens. Muito disso devido à personalidade peculiar, à força e à mobilidade da mulher de pouco mais de 1m50cm de altura. Os adjetivos de quem já trabalhou com ela variam: ousada, trabalhadora, lutadora, centralizadora ou sedutora. Já a palavra que Marli não carrega, definitivamente, é “acomodação”. Ela é proativa,mais um ingrediente difundido no mundo do business para quem quer crescer e aparecer
em meio a tanta competitividade. O impulso para que deixasse Alegrete, ainda na década de 70, foi o desejo de que as três filhas pequenas não fossem empregadas domésticas no futuro. Ao chegar em Porto Alegre
e encontrar uma comunidade com pouca infraestrutura, casos de violência familiar e domínio do tráfico, não hesitou em agir em prol de outras mulheres.
– Muitas delas eram mão de obra do tráfico ou se conformavam com maridos violentos – conta. Já a inspiração para a criação do galpão veio do filme Ilha das Flores, de Jorge Furtado. O projeto, que começou na reciclagem, estendeu-se até um centro cultural e uma escola de educação infantil,
todos englobados pela ONG Centro de Educação Ambiental (CEA). O trajeto não foi simples, mas parece ter sido facilitado por uma capacidade de Marli, ressaltada por grande parte das pessoas que já trabalharam com ela,o diálogo.
– Ela tem uma técnica eficiente e inteligente de abordar as pessoas. Seduz para o bem, sem ser piegas ou pedinte – afirma Léo Voigt, diretor executivo do InstitutoVonpar. Talvez por isso, a ONG tenha estabelecido tantas parcerias, com governo, iniciativa privada e instituições de ensino. Os braços estenderam-se de uma forma que,hoje,o local abriga muito mais gente do que os cerca de 50 associados do galpão de reciclagem. Há desde assistência jurídica até um telecentro e aulas de judô. A capacidade de mobilizar a comunidade em torno de uma causa são diferenciais que colaboram para o voo de Marli para fora daVila Pinto.
– Ela tem uma capacidade de pensar e de implementar os projetos que deseja – afirma Francisco Obino Cirne Lima,ex-conselheiro do CEA. Entusiasmada com as viagens que já fez, Marli enumera visitas à Alemanha, à Itália, à Suíça e à Venezuela, enquanto conta o seu próximo sonho:
– Quero que o Obama seja reeleito, e eu possa ir lá. Quem sabe ele não me ouve?

AS LIÇÕES DA LÍDER


> Saber conversar com diferentes tipos de públicos, políticos, empresários ou jovens com problemas de drogas.
> Conhecer seus direitos como cidadã. Por muito tempo, Marli andou com a Constituição Brasileira na bolsa, pois acredita que noções básicas de Direito trazem segurança e, ao mesmo tempo, abrem portas.
> Falar com verdade e sinceridade sobre o trabalho que faz ou está se propondo a fazer, olhando no olho das pessoas.
> Antes de criticar alguém, pensar se você sabe fazer aquilo melhor do que ele. Ajude a fazer o certo, em vez de apenas criticar.
> Fazer bem feito e com vontade sempre, desde as coisas menores até as mais significativas.
> Usar histórias com caráter lúdico para ajudar a resolver problemas cotidianos.
> Antes de começar algo novo, Marli acredita que é preciso se reciclar, se livrando de sentimentos ou atitudes que não acrescentam.

* Fonte: Jornal Zero Hora, Caderno Nosso Mundo Sustentavél do dia 25/04/2011

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